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LIVROS

A Celebração do Rei Lagarto

“(…) quero dar-te uma história. No fim fazes o que quiseres. Podes revelar ou não, que é lá contigo, mas desde já te garanto que, embora seja verdade tudo o que te vou contar, não será fácil fazeres com que as pessoas acreditem (…)”

 “Quase sem respirar acendi outro cigarro e enchi novamente o copo com uísque. Tentava ainda ordenar as ideias quando voltei a escutar aquela voz, ligeiramente enrouquecida, ao mesmo tempo firme, segura e sem hesitações.

– Queres ouvir a história?

– Claro – respondi.

Ali ao lado, aquele homem, que para mim ainda não tinha nome, desviou os olhos dos meus, fixou-os em qualquer coisa indefinida e depois de, em cima do balcão, unir as mãos com os dedos cruzados foi dizendo:

 – As pessoas criam as suas próprias verdades e, mesmo que não tenham a certeza de coisa alguma, a maior parte das vezes não querem saber o que é mesmo verdade e nada, nem mesmo a dúvida, as faz mudar de opinião. Sabes, há coisas que sabemos e há coisas desconhecidas e, entre elas, existem as portas. Mas a maioria não está preparada para abri-las (…)”

 

Céu Negro

“Jorge Romão tinha a sensação que pela primeira vez na vida estava a escutar o barulho do horror vindo de diferentes lugares e várias direcções. Experimentava a horrível impressão de ouvir um constante chamamento. Conseguia discernir gritos mudos a chamar por si. Sentia, não sabe ao certo como, que alguém estava à sua espera. Não o deixavam repousar. Até parecia que toda a vida lhe estava a escoar por entre os dedos.”

 

A Promessa

“Eu era a única pessoa da aldeia com quem o Tóino falava. Talvez nem a própria família imaginasse que ele até conseguia balbuciar tanto vocabulário, ou não quisessem pura e simplesmente saber. Embora não aceitasse como normais todas as suas histórias, fui compreendendo com o passar do tempo as razões do seu silêncio para com os outros.

Através do meu pai, da minha mãe, das outras pessoas da aldeia e também do próprio Tóino, fui reconstruindo aos poucos a sua vida. A sua desgraçada vida de apenas vinte sete anos. Até àquele dia de mil novecentos e oitenta sete em que dominado pela raiva e levado pela emoção tomei a atitude de tentar mudar a vida de alguém que afinal não tinha nascido maluco.”

 

Segredos

“– Não chove nunca durante a claridade? – perguntei antes de se virar.

– Como queres que chova se tu não acreditas nisso – respondeu-me. – Já reparaste como estes campos à tua volta são verdes?

Olhei em redor e de facto observei os campos mais verdes que alguma vez tinha visto. Fiz nova pergunta:

– Quer dizer que os campos só estão belos porque eu acredito que é assim que eles têm de ser?

Procurei-o com o olhar mas já não o vi naquele momento. Queria apenas dizer-lhe que tinha percebido.”

 

Amor Meu Grande Amor

“Ele sorriu ao mesmo tempo que se encaminhou em direcção à casa mas deteve-se à porta quando a viu a dançar ao som de uma música que não se escutava. Ela rodopiou até encontrar os seus braços. Santiago apertou-a, ela mexeu a cintura de encontro a ele roçando-se e provocando-o. As mãos não paravam de o acariciar. Os seus lábios buscaram os dele e as línguas acabaram por se tocar como se toda a vida tivessem andado em busca uma da outra. Entregaram-se àquele beijo com uma loucura quase sôfrega. Ofegaram. Começaram a transpirar. Até que, já solta, Miriam recuou vagarosamente e, acenando-lhe lentamente, entrou em casa e fechou a porta, deixando-o do lado de fora.”

Pedras Soltas

Poemas

(Ilustrações de Ana Sofia Neves)

Frente capa 2ª edição.png
Pedras Soltas

“A lua agiganta-se

apesar da gélida noite

que é imposta.

O brilho intenso de pouco serve

nestes dias tão conturbados

e incertos.

Aquela beleza natural

reflecte no leito do rio que os percorre,

pouco diz nesta época tão bizarra e transbordante

de dúvidas.

A alegria

não se desdobra mais nas faces

dos homens e das mulheres,

que outrora sabiam bem o que não esperar.

Resta-lhes o desespero e a ansiedade

do reencontro com os semelhantes

em mundos e vidas transversais,

com o luar ou sem o brilho

de noites que já foram vividas

e não voltam mais.”

Conversas (Des)Fiadas e Assim...

“Faz da tua ausência o bastante para que eu venha a sentir a tua falta, mas não a prolongues ao ponto de que eu venha a acostumar-me a viver sem ti”.

Frente Capa JPG.jpg

Quando Os Dias Se Fizerem Frios

“Observar tudo. Gravar tudo. Um dia, quando a solidão se sentar ao nosso lado, esses detalhes, essas pequenas grandes coisas irão fazer-nos companhia.”

10 em 20

uma breve nota do autor:

 

não sou especialista da escrita e muito menos da fotografia,

tenho sido, simplesmente, um curioso com boa vontade e muitos falhanços,

ainda assim não quis deixar passar em claro o vigésimo ano após a edição do primeiro livro,

daí a celebração

que justifica este “redondo” décimo livro.

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